Comentários Lição 02 - Amor e Julgamento: O Dilema de Deus (Prof. César Pagani)

06 a 13 de Abril de 2013

Verso para Memorizar

“Converte-te a teu Deus, guarda o amor e o juízo e no teu Deus espera sempre.” Os. 12:6.

Segundo o eminente gramático, filólogo e professor, Napoleão Mendes de Almeida, metáfora “é o fenômeno pelo qual uma palavra é empregada por semelhança real ou imaginária: dentes do pente, pé da mesa, serra (cadeia de montanhas)...” 
            Expressões que nos podem parecer estranhas são utilizadas no correr do livro de Oseias, como “pomba enganada”, “rede de Deus”, “bezerra domada”, “arreios sobre Efraim”, Deus como “traça” e “podridão” para Israel (Os 5:12), como “leão” (Os 5:14), Israel, chamado em Oseias de Efraim, como “bolo que não foi virado” (cap. 7:8), “meretriz” (cap. 9:1), “vide frondosa que dá frutos para si mesma” (cap. 10:1), só para citar alguns exemplos.
            Deus usa analogia de significados para tentar chamar Seu povo à consciência pelo que estavam fazendo com seu amoroso Rei.
            O uso de algumas analogias feitas com coisas inanimadas (rede, arreios, podridão, bolo) ou irracionais (pomba, bezerra, vide) mostra a ausência de inteligência do povo, assim como essas coisas que não têm consciência, que trocou o Deus vivo pelos falsos deuses das nações.
            É um fenômeno incompreensível que um povo que teve todas as vantagens e que fora designado ser a maior nação da Terra, mergulhasse em profunda treva a ponto de rumar para o desaparecimento. De fato, Israel, o reino do Norte, jamais voltou do cativeiro assírio. Triste fim de quem despreza a Deus e Lhe volta as costas.
            Quem rejeita a Deus já profere sobre si o veredicto de perdição. Cristo, que adquiriu cada alma mediante infinito sacrifício, sente terríveis dores ao ver alguém por quem morreu endurecer o coração e expulsá-Lo definitivamente de sua alma. O amor divino sofre padecimentos tais que nossa vã inteligência e limitada imaginação jamais poderá avaliar.

DOMINGO
 Enganado e insensato
            Estar enganado é pensar de modo equivocado ou ser ludibriado por algo ou alguém. Efraim ou Israel ou o Reino do Norte foi ludibriado por sua própria apostasia. Os reis, líderes, sacerdotes e povo do Norte obstinaram-se e não creu nas mensagens de advertências que Deus lhes enviara pelos profetas. Quando a Palavra de Deus é rejeitada continuamente, ocorre um temível resultado:  Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira...” (2Ts 2:11)
            Calvino considera em seus comentários: “O profeta aqui acusa Israel de credulidade tola e o compara a uma pomba, pois eles haviam convidado os egípcios e pedido ajuda à Assíria. A simplicidade é, de fato, uma virtude recomendável quando unida á prudência. Mas tudo o que é razoável e judicioso nos homens se torna impiedade quando não há integridade.  Assim, quando os homens são muito crédulos e desprovidos de todo julgamento e razão, isso é mera estupidez. Mas quando se diz que Israel é como uma pomba, o profeta não quer dar a entender que os israelitas haviam pecado por simples ignorância, mas que eles estavam destituídos de todo senso, e que essa boçalidade é oposta ao conhecimento que Deus lhes havia oferecido em Sua Lei.  Deus nunca cessou de guiar Israel mediante a sã doutrina. Ele sempre lhes mostrou a tocha de Sua verdade, mas quando o Senhor lhes deu luz, Israel estava tão crédulo que deu ouvidos aos enganos de Satanás e do mundo.”  
“Por intermédio do homem de Deus que aparecera ante o altar de Betel, por intermédio de Elias e de Eliseu, de Amós e Oséias, o Senhor repetidamente expusera ante as dez tribos os males da desobediência. Não obstante as reprovações e rogos, Israel caiu cada vez mais baixo na apostasia. "Como uma vaca rebelde se rebelou Israel" (Osé. 4:16), declarou o Senhor; "Meu povo é inclinado a desviar-se de Mim." Os 11:7.
“Ocasiões houve em que os juízos do Céu caíram pesadamente sobre o povo rebelde. ‘Por isso os abati pelos profetas’, declarou Deus; ‘pela palavra de Minha boca os matei; e os Teus juízos sairão como a luz. Porque Eu quero misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus mais do que os holocaustos. Mas eles transpassaram o concerto, como Adão; eles se portaram aleivosamente contra Mim.’ Os 6:5-7.
"’Ouvi a palavra do Senhor, vós, filhos de Israel’, foi a mensagem que finalmente lhes veio; ‘visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também Eu Me esquecerei de teus filhos. Como eles se multiplicaram, assim contra Mim pecaram; Eu mudarei a sua honra em vergonha. ... Visitarei sobre eles os seus caminhos, e lhes darei a recompensa das suas obras." Os 4:1 e 6-9.
“A iniquidade em Israel durante o último meio século antes do cativeiro assírio, era comparável à dos dias de Noé, e de qualquer outro século em que os homens tenham rejeitado a Deus e se entregado inteiramente à prática do mal. A exaltação da Natureza acima do Deus da Natureza, a adoração da criatura em lugar do Criador, tem sempre resultado nos mais crassos males. Assim, quando o povo de Israel, em seu culto a Baal e Astarote, renderam suprema homenagem às forças da Natureza, desvincularam-se de tudo que é inspirador e enobrecedor e caíram presa fácil da tentação. Com as defesas da alma derruídas, não tinham os enganados adoradores qualquer barreira contra o pecado, e renderam-se às más paixões do coração humano.” PR, 281, 282.
            Sem entendimento. O entendimento exigível por Deus não é um conhecimento cultural ou intelectual da verdade. Esse tem o seu lugar, mas aqui se trata de um conhecimento prático, espiritual, vivo da Pessoa Divina, Seus mandamentos, estatutos, leis e juízos; um relacionamento achegado como o de Enoque, que andou com Deus; de uma relação de obediência e fé. Se há alguma coisa abominável para o Senhor é que Seu povo ostente uma religião nominal, enquanto vive como os demais que não têm esperança. 

SEGUNDA
            Era permitido pelas leis de Israel que um animal (boi) debulhasse ou retirasse os grãos (nesse caso, de milho) na lavoura em que estivesse trabalhando, para saciar sua fome (ver Dt 25:4). Seu proprietário não deveria impedi-lo. Essa liberdade era conferida a animais amestrados que serviam ao seu dono.   
            O povo de Israel é aqui comparado a uma novilha domesticada posta em terreno fértil e que, tendo fartura, empanturrava-se de alimento.  Israel fora colocado numa terra de muitas facilidades, como uma bezerra debulhadora à qual era permitido comer à vontade. Infelizmente, essa grande generosidade do Senhor foi malvertida e o povo se tornou auto-suficiente, rebelde e pecaminoso. É a típica história de tornar uma bênção em maldição.
            Deus narra Seu trato com o povo escolhido desta maneira: “Coloquei uma canga no seu belo pescoço para que ele puxasse o arado. Vou usar Judá e Israel para trabalharem na lavoura. Eu lhes disse: ‘Preparem os campos para a lavoura, semeiem a justiça e colham as bênçãos que o amor produzirá. Pois já é tempo de vocês se voltarem para Mim, o Senhor e Eu farei chover sobre vocês a chuva da salvação.’ Mas, em vez disso, vocês plantaram a maldade, colheram a injustiça e comeram os frutos da mentira.”
            O sonho do Senhor para Israel é expresso nestas belas palavras divinas: “Semeai para vós outros em justiça, ceifai segundo a misericórdia; arai o campo de pousio; porque é tempo de buscar ao Senhor, até que Ele venha e chova a justiça sobre vós.” (Os 10:12)
            Semear em justiça é agir segundo os mandamentos de Deus – a prática da justiça que não deseja mal a seu próximo, que atende órfãos e viúvas, que se mantém incontaminado do mundo, que representa Cristo perante a sociedade, que atende ao pobre, ao dependente químico, que tem compaixão daqueles que depravaram seu corpo e mente e se encontram sem Deus e sem esperança no mundo. É claro que essa desejável condição não se consegue com a prática de obras que, embora possam ser boas em si mesmas, carregam orgulho, ostentação, vaidade e farisaísmo.
            A justiça da Lei vem do Senhor mediante a santificação do Espírito. Ninguém pode ser verdadeiramente santo sem a constante tutoria do Espírito do Senhor. 


            Os versos do estudo de hoje nos revelam muito sobre o caráter paternal de Deus. Observemos com que carinho o Senhor se refere àquele povo agora apostatado, idólatra, perverso, insolente. “Eu amei Israel desde o início”, “Ele era Meu filho e Eu o chamei do Egito para a terra que prometi a seus pais.” “Tomei-o em Meus braços”, “Ensinei-o em toda a verdade para que andasse em Meus caminhos”. E a profunda decepção do Pai: “Mas não atinaram [perceberam] que Eu os curava.”
            “Não perceberam” – Quando um povo que professa servir ao Senhor chega ao ponto de não perceber  ou entender o trato de Deus com ele, é sinal de percepções endurecidas, de cegueira, de profundas trevas de entendimento. É indício de ausência de comunhão, de apartamento das Escrituras, de abandono da oração, de resistência ao Espírito. Como Israel, o povo se julga no favor de Deus, quando, em verdade, o desagrado divino repousa sobre ele. É a esse povo que Deus diz: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados.” (At 3:19)
            Nunca o Senhor os deixa de amar e por isso mesmo repreende e disciplina a quantos ama (Ap 3:19). “... e as repreensões da disciplina são o caminho da vida.” (Pv 6:23) Disciplina está ligada ao amor em se tratando de Deus. “Porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe.” (Hb 12:6)
É justamente porque Deus os conduz que estas coisas lhes sucedem. As provas e obstáculos são os métodos de disciplina escolhidos pelo Senhor e as condições de bom êxito que nos apresenta. Ele, que lê o coração dos homens, conhece melhor do que eles mesmos o seu caráter. Vê que alguns têm faculdades e possibilidades que, bem dirigidas, podiam ser empregadas no avanço de Sua obra. Em Sua providência, Deus colocou estas pessoas em diferentes situações e variadas circunstâncias a fim de que possam descobrir, em seu caráter, defeitos que a eles próprios estavam ocultos. Dá-lhes oportunidade de corrigirem tais defeitos e de se tornarem aptos para O servir. Permite por vezes que o fogo da aflição os assalte, a fim de que sejam purificados. 
O fato de sermos chamados a suportar a prova mostra que o Senhor Jesus vê em nós alguma coisa de precioso que deseja desenvolver. Se nada visse em nós que pudesse glorificar Seu nome, não desperdiçaria tempo a depurar-nos. Não lança pedras sem valor na Sua fornalha. É o minério precioso que Ele depura. O ferreiro põe o ferro e aço no fogo, a fim de provar que qualidade de metais são. O Senhor permite que Seus eleitos sejam postos na fornalha da aflição para lhes provar a têmpera e ver se podem ser formados para a Sua obra.” CBV,  471.

QUARTA
Compaixão mais forte do que a ira
            Pode parecer difícil harmonizar as ameaças de juízo proferidas por Deus, a despeito de sua precisa justiça, com os amorosos lamentos registrados em Oseias 11:8, 9. O que vemos? Um Deus apaixonado! Quem pode entender o amor divino? Apenas podemos apanhar-lhe vislumbres e ainda assim ficamos profundamente comovidos.
                Considere os textos de hoje segundo a versão NTLH: “Israel, como poderia Eu abandoná-lo? Como poderia desampará-lo? Será que Eu o destruiria, como destruí Admá? Ou faria com você o que fiz com Zeboim? Não! Não posso fazer isso, pois o Meu coração está comovido, e tenho muita compaixão de você. Não deixarei que a ira Me domine, não destruirei o Meu povo outra vez. Pois Eu sou Deus e não um ser humano; Eu, o Santo Deus, estou no meio do Meu povo e não o destruirei novamente.”
                - Espere um pouco, Senhor. O Senhor não levou em atenta consideração o que esse povo vem fazendo contra Ti desde os tempos de Jeroboão I (cerca de 975 a.C.), quando mandou fundir dois bezerros de ouro e os colocou, um em Betel e outro em Dã? Agora, nos tempos de Oseias (785 a.C.) já fazem 190 anos de rebeliões, desprezo, execrável idolatria, abandono de Ti e total repulsa às Tuas graciosas mensagens e desafio ousado à Tua longanimidade. Ainda vais tolerar por mais tempo essa profanação?
                Todavia o Senhor não abandonou a Israel sem antes fazer tudo que poderia ser feito para levá-lo de volta à submissão a Si. Através dos longos, escuros anos quando rei após rei se puseram em ousado desafio ao Céu e levaram Israel a idolatria cada vez mais profunda, Deus enviou mensagem após mensagem a Seu transviado povo. Por intermédio de Seus profetas deu-lhes toda oportunidade de deter a maré da apostasia e retornar a Ele. Durante os anos que sucederiam à cisão do reino, Elias e Eliseu viveriam e trabalhariam, e os ternos apelos de Oseias, Amós e Obadias deviam ser ouvidos na terra. Jamais deveria o reino de Israel ser deixado sem nobres testemunhas do suficiente poder de Deus para salvar do pecado. Mesmo nas horas mais escuras, alguns permaneceriam leais ao seu divino Rei, e em meio da idolatria viveriam inculpáveis à vista de um Deus santo. Esses fiéis foram contados entre o piedoso remanescente por cujo intermédio o eterno propósito de Jeová devia ser finalmente cumprido.” PR, 108.
                Cremos que quando a Assíria invadiu o território do Norte e levou cativas as 10 tribos, doeu muito no coração divino. Embora Deus seja transcendente, Ele não é indiferente à sorte mesmo daqueles que O desprezam e desafiam. A Bíblia diz que a destruição é um ato estranho para Deus (Is 18:21). Ele é Criador, Restaurador, Reformador e não destruidor. Somente quando nações ou indivíduos enchem a medida de sua taça de iniqüidade é que Deus tem de aplicar Sua justiça sem qualquer dose de misericórdia. É o chamado “vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da Sua ira” (Ap 14:10).     
                Ira de Deus não é um ataque de nervos da Divindade, um surto de cólera incontrolável. Deus não perde jamais o controle. Trata-se, sim, da aplicação inevitável da justiça, da penalidade da transgressão com todo o seu peso. A penalidade é proporcional ao crime. Ainda assim a ira de Deus não tem propósitos de revanche, mas de recuperação, de saneamento. Deus “... não aflige, nem entristece de bom grado os filhos dos homens” (Lm 3:33).

Curado, amado e sustentado
             De geração em geração o Senhor tinha tratado pacientemente com Seus transviados filhos; e mesmo agora, em face de ousada rebelião, Ele ainda ansiava por revelar-Se a eles como desejoso de salvar. ‘Que te farei, ó Efraim’, clamou Ele, ‘que te farei, ó Judá? porque a vossa beneficência é como a nuvem da manhã, e como o orvalho da madrugada, que cedo passa.’ Os 6:4.
“Os males que se haviam espalhado sobre a terra tinham-se tornado incuráveis; e sobre Israel fora pronunciada a terrível sentença: ‘Efraim está entregue aos ídolos; deixa-o’. Os 4:17. ‘Chegaram os dias da visitação, chegaram os dias da retribuição; Israel o saberá.’ Os 9:7.” PR, 285.
Randy Harshbarger comenta: “Os profetas do Velho Testamento são instrutivos a respeito do desejo de Deus e a capacidade de perdoar. Nós nos preocupamos com os pecados passados que permanecem conosco. Considerem, porém, os israelitas. Foram escolhidos por Jeová como o veículo pelo qual o Messias viria. Foram abençoados imensuravelmente. Porém, cometeram apostasia. O reino do norte foi levado ao cativeiro assírio e nunca mais funcionou como uma nação coesiva. O reino do sul foi enfim levado ao cativeiro babilônico. Eles voltaram após um período de setenta anos, conforme continuaram os planos e os propósitos de Deus.
“Através de tudo, Deus deixou claro que Ele desejava que Seu povo se arrependesse. Eles deveriam se afastar de seus pecados; e quando assim fizeram, poderiam andar novamente numa relação de aliança com o seu Deus.”
“Embora dispersos entre as nações, os israelitas do Norte não foram esquecidos pelo Senhor. Nos terríveis juízos acarretados sobre as dez tribos, o Senhor tivera um sábio e misericordioso propósito. Aquilo que Ele não mais podia fazer por intermédio deles na terra de seus pais, procuraria realizar espalhando-os entre os pagãos. Seu plano para a salvação de todo aquele que escolhesse apropriar-se do perdão mediante o Salvador da raça humana devia de alguma forma ser cumprido; e nas aflições levadas a Israel, estava ele preparando o caminho para que Sua glória fosse revelada às nações da Terra. Nem todos os que foram levados cativos eram impenitentes. Entre eles havia alguns que tinham permanecido leais a Deus, e outros que se haviam humilhado perante Ele. Por intermédio desses, os ‘filhos do Deus vivo’ (Os 1:10), Ele levaria multidões no reino assírio ao conhecimento dos atributos de Seu caráter e beneficência da Sua lei.” PR, 292.  

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