Comentários Lição 12 - Criação e Evangelho (CPB)

Michelson Borges, jornalista pela UFSC e mestre em teologia pelo Unasp Nahor Neves de Souza Jr., geólogo pela Unesp e doutor em engenharia pela USP

Introdução

Ideia central 1: Se o relato da criação e da queda não foi exatamente como está registrado em Gênesis, que sentido existe na morte expiatória de Jesus e em Sua promessa de restauração do ser humano à imagem de seu Criador? O fato é que Deus criou seres inteligentes, física e mentalmente perfeitos, mas dotados de livre-arbítrio. Infelizmente, dando ouvidos aos enganos de Satanás, eles escolheram pecar. Mas Deus não os abandonou e lhes prometeu enviar o Messias, cujo propósito seria pagar a dívida do pecado e resgatar os seres humanos (Gn 3:15). A roupa de peles com que Deus vestiu Adão e Eva era um símbolo da graça que cobre pecados e envolveu a morte de uma vítima inocente (Gn 3:21).

Ideia central 2: Deus é a fonte da vida e sem ela o ser humano é apenas um amontoado de moléculas. Quando morre e perde essa centelha vital doada por Deus (Gn 2:7), a pessoa volta ao pó, se desfaz (e só voltará a existir quando Jesus retornar e reconstruir o corpo de Seus filhos, devolvendo-lhes o fôlego de vida). Como o pecado é a separação de Deus, distanciados dEle (que é a fonte da vida), somos mortais. Quando entendemos que o próprio Criador Se fez humano, Se fez pecado (separou-Se do Pai) e morreu em nosso lugar, isso deve nos encher de amor por Deus. Cristo veio para destruir a morte, o que contraria a teoria da evolução (teísta ou não), segundo a qual a morte seria um componente natural da existência. Enquanto isso não acontece, Ele pode fazer de nós nova criatura, dando-nos novo coração (Sl 51:10).

Para refletir

1. O relato da criação tem implicação na doutrina da redenção?
2. Qual o significado da roupa de peles providenciada por Deus a Adão e Eva?
3. Segundo a Bíblia, o ser humano é mortal. Que esperança há para nós? Como a destruição da morte por Jesus contraria a evolução?

Ampliação

O Deus criador e restaurador

Na mente de alguns, a existência de um Deus criador pode estar desvinculada da realidade de um Deus restaurador. Ou seja, segundo o deísmo (concebido pelos gregos e realçado durante o Iluminismo do século 18), deus está na natureza e no ser humano. Assim, seria possível descobrir essa mesma divindade por meio da razão. A grandiosidade do espaço sideral, a complexidade da vida e outras realidades que sensibilizam a mente humana constituem o motivo principal que inspira os deístas a admitir a existência de Deus. Vejamos, então, os principais enunciados desse paradigma:

- A realidade de um deus criador unicamente como exigência da razão e não pelas doutrinas impositivas de quaisquer religiões.
- Determinados conceitos – pecado, redenção, providência, perdão e graça – não existem, pois constituiriam ideias irracionais.
- Não existem milagres nem o sobrenatural, porém, a ordem do Universo provém de um deus – da natureza e não da humanidade, portanto, um deus impessoal.
- Um deus que pode ainda ser evocado no processo evolutivo – apenas originou a vida e orientou os mecanismos de formação de alguns sistemas biológicos mais complexos (na ausência desse deus, os mecanismos evolutivos dominam o cenário de lentas e graduais transformações).

Esses conceitos certamente deturpam o verdadeiro caráter de Deus. A realidade do surgimento do pecado, suas consequências e a solução divina – eficaz e completa – são claramente expostas nas Sagradas Escrituras. Com efeito, o verdadeiro e único Deus criador e Seu plano redentor para restaurar a criação caída constituem os fundamentos do criacionismo e do próprio evangelho eterno, realçados na primeira mensagem angélica: “Vi outro anjo voando pelo meio do céu, e tinha um evangelho eterno para proclamar aos que habitam sobre a terra e a toda nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo com grande voz: Temei a Deus, e dai-Lhe glória; porque é chegada a hora do Seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” (Ap 14:6, 7).

Quanto à triste realidade do pecado, devemos ainda entender que sua funesta manifestação é permitida – dentro de certos limites estabelecidos pelo próprio Deus – com dupla finalidade: (1) reconhecer o amor e o poder de Deus revelados imperfeita e parcialmente por meio da contemplação e/ou estudo da natureza, e (2) deixar evidentes os trágicos resultados decorrentes das nocivas interferências (diretas e indiretas) de Satanás, na própria natureza.

Se o mal se manifestasse de maneira mais branda, não poderíamos ter a verdadeira noção da malignidade do pecado e, assim, poderíamos ser iludidos mais facilmente. Por outro lado, a presença mais marcante (sem limites) do mal poderia nos impedir de vislumbrar a bondade e a misericórdia divinas. Na verdade, a harmonia de propósitos e a coerência de ações de um Deus poderoso e misericordioso, ao longo da história humana – do Gênesis ao Apocalipse –, podem ser compreendidas de maneira muito especial quando se constrói o seguinte paralelismo:

Teologia bíblica das origens Teologia bíblica da restauração
1. Criação dos céus e da Terra (Gn 1:1). 1. Criação do novo céu e da nova Terra (Ap 21:1).
2. O primeiro Adão com sua esposa, Eva, no paraíso, chamados para reinar sobre a Terra (Gn 1:27, 28). 2. O Segundo Adão (Cristo), com Sua esposa (a Igreja), no paraíso restaurado, onde reinará para sempre (Ap 21:9).
3. No meio do jardim, está a árvore da vida e o rio para regar o paraíso (Gn 2:9, 10). 3. No paraíso restaurado, está a árvore da vida e o rio da vida (Ap 22:1, 2).
4. A interferência de Satanás, o tentador (Gn 3:1-4). 4. O julgamento e a subversão final de Satanás (Ap 20:10).
5. O início do pecado, a queda do ser humano e sua expulsão do paraíso, tornando-o sujeito ao sofrimento e à morte (Gn 3). 5. O fim do pecado, a restauração do ser humano e sua reintegração ao paraíso, garantindo-lhe a vida eterna (Ap 20:14, 15; 22:1-5).
6. O primeiro julgamento – um dilúvio global (Gn 6–9). 6. O último julgamento universal, com fogo (Ap 20:7-10).
7. A Torre de Babel – Deus transtorna a unidade étnica da espécie humana, com a confusão das línguas (Gn 11). 7. Diante do trono celestial – a unidade é selada pelo sangue do Cordeiro, reunindo pessoas de todas as etnias (Ap 5:9).

Conclusões

- Em Gênesis 3:9-15, Deus realiza um juízo investigativo e, depois, oferece perdão e graça.

- O autor da Lição escreveu: “Podemos produzir morte, mas a criação da vida está além da nossa compreensão. Unicamente Deus tem a capacidade de criar organismos vivos. Os cientistas têm tentado criar vida, pensando que, se pudessem fazer isso, teriam uma desculpa para não acreditar em Deus. Até agora, todos esses esforços fracassaram.” Sobre isso, leia os textos “Vida artificial ou comprovação de design?” (aqui) e “Criar vida artificial é mais difícil do que se pensava” (aqui).

- “Por que Deus não evitou o surgimento do mal, se Ele sabe todas as coisas? Ele não merece ser responsabilizado por omissão? Pense no seguinte exemplo: se o professor, ao aplicar uma avaliação, percebe que o aluno usa uma ‘cola’, de quem é a responsabilidade? Do aluno! O professor é apenas um expectador. E se fosse possível ao professor com dois dias de antecedência visualizar o aluno colando? A culpa continuaria sendo do aluno? Certamente que sim! O professor permaneceria um observador – apesar da mudança na relação entre a ação do observador e o tempo da ação praticada (simultânea na primeira situação e previdente, na segunda)” (O Resgate da Verdade, p. 56).

- “Semelhantemente, a onisciência de Deus, que implica em Seu conhecimento prévio das escolhas morais de Suas criaturas, não determina as decisões delas, nem O torna responsável pelas escolhas que fazem. Entretanto, Deus não é um observador desinteressado e impassível. Ele age para nos atrair a Si, sabendo que precisamos dEle para vencer o mal. Ainda assim, Deus nos dá liberdade de escolha. Em muitos casos, nem quando Deus nos avisa antecipadamente de algo, deixamos de cometer tal ação (a rejeição sofrida por Cristo é um bom exemplo desse fato; ela ocorreu mesmo depois da advertência feita pelo profeta Isaías, no capítulo 53 de seu livro)” (ibidem).
Leia Isaías 53:4, 5. Jesus Cristo carregou o fardo que não somos capazes de suportar. Ele, e somente Ele, tem a solução para o problema do pecado. Qualquer outro método para eliminá-lo deve ser considerado automaticamente como uma utopia doentia.

- Medite nas palavras do poema a seguir: “Ele veio até minha escrivaninha com lábios trêmulos, / a lição havia sido terminada. / ‘Você tem uma folha em branco para mim, professor? / Eu errei nesta, não está adequada.’ Peguei seu papel, todo sujo e manchado / e dei a ele um novo, com todo o cuidado / E falei para seu coração com esperança, / ‘Faça melhor desta vez, minha criança.’ / Eu fui até o trono com o coração trêmulo; / o dia havia terminado. / ‘Você tem um dia novo para mim, querido Mestre? / Eu estraguei este, não está adequado.’ Ele pegou meu dia, todo sujo e manchado / e deu-me um novo, com todo o cuidado. / E para meu coração Ele falou com esperança, / ‘Faça melhor desta vez, minha criança’” (Autor desconhecido, “A New Leaf”, in James G. Lawson, The Best Loved Religious Poems [Grand Rapids, MI: Fleming H. Revell, 1961]).

Assista ao esboço em vídeo desta lição. Clique aqui. Assista ao programa “Em Busca das Origens”. Clique aqui. Assista também à exposição geral da Lição “Origens” (aqui).

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